Sonhos calados nos semáforos do Brasil

Cristiano Santos

Dores do passado reverberam no presente.
O racismo continua sendo uma ferida aberta que dilacera a autoestima e a autoconfiança de milhares de crianças e jovens brasileiros. Uma ferida que não cicatriza porque é constantemente alimentada por olhares de desprezo, por palavras que humilham, por vidros que se fecham.WhatsApp Image 2025-05-29 at 08.38.06.jpeg

Ao conversar com crianças em situação de vulnerabilidade nos semáforos, crianças que deveriam estar brincando, estudando, sonhando, percebo como os sonhos vão se esvaindo. Escorrendo junto com as lágrimas que ninguém vê, atrás dos vidros fechados dos carros apressados. Cada rosto que se vira, cada “não” impessoal, cada frase cruel como “vai trabalhar, vagabundo”, vai apagando diariamente a esperança que ainda resta.


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O peso da adultização infantil fere não só o presente dessas crianças, mas também o futuro da nossa sociedade e constituição.
Negar o direito ao brincar, ao imaginar, ao se encantar e não proteger e obrigá-las a carregar responsabilidades que jamais deveriam ser suas, é um tipo de violência silenciosa, mas devastadora. É uma forma de dizer que elas não têm o direito de ser apenas crianças.WhatsApp Image 2025-05-29 at 08.36.33.jpeg

E mesmo assim, elas permanecem ali.
Dia após dia.
No sol, na chuva, enfrentando a indiferença, tentando sobreviver com um mínimo de dignidade.

Enquanto isso, vejo o noticiário celebrando a contratação de um técnico estrangeiro para a seleção brasileira, com um salário milionário. E me pergunto: em que momento o Brasil se perdeu?

E me respondo:
O país se perdeu quando naturalizou o racismo como mecanismo de exclusão e marginalização da maioria de sua população.
Se perdeu quando passou a considerar normal que um técnico de futebol ganhar milhões, enquanto famílias inteiras sobrevivem com R$ 1.500,00 por mês — ou menos.

Essa desigualdade gritante não é apenas injusta, é inaceitável.
E não há outro caminho possível além de repensar, com urgência, as políticas públicas voltadas à educação, à infância, ao enfrentamento do racismo e à proteção de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Sonhar não pode ser um privilégio.
Brincar não pode ser um luxo.
A infância de maneira nenhuma pode ser negada.

Enquanto tiver voz eu vou gritar e vou buscar o caminho de tirar a poeira dos olhos, como um convite à reflexão.
Porque um país que fecha os vidros diante de suas crianças fecha também as portas do seu próprio futuro.

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Cristiano dos Santos
Prof° Especialista

Formado em Educação Física e Artes / Pós graduado em Psicopedagogia/ Inteligência Socioemocional / Educação Física Escolar / Escritor, palestrante, educador, compositor, pesquisador, contador de história. Coordenador Pedagógico Editora Mixirica / Grupo Conectar

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