Retratos dos “Brasis” preto e branco

*Alessandra Franco

Século XXI, 2023, Brasil, São Paulo, Região Metropolitana da Baixada Santista, Santos, população brasileira 203 milhões de brasileiros, composta de 56%, de negros autodeclarados, segundo IBGE, segunda maior população negra do mundo.

Pois bem, vejamos agora onde estão os negros nos “Brasis” preto e branco?

Parto do princípio, necessário historiar o conceito de raça e todas demais mazelas decorrente da racionalização, começo com a citação “o conceito de raça, tal como o empregamos hoje, nada tem de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias ele esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e de dominação” (MUNANGA, 2003:27).

Desta forma, temos a divisão de velho mundo e novo mundo, velho mundo dominador, sua história, sua cultura, economia, sua nação, exemplo de desenvolvimento, o eurocentrismo como a “coqueluche” no centro do mundo. Advêm as grandes navegações da Europa, (re) descobrindo o “novo mundo”, as Américas, colonizando todas as porções de terra desse imenso continente.

Nessa chegada, o colonizador se atenta ao “novo”, o povo pagão, assim denominado pela igreja, os indígenas, que aqui habitavam. Caiu por terra a tese bíblica de monogenismo (descendência única da humanidade desde Adão). A Igreja considerou os indígenas como “bárbaros ou infiéis” deveriam ser catequizados e assim libertos da escravidão, segundo a posição eclesiástica. Jean-Jacques Rousseau define os indígenas como o homem natural, o bom selvagem.

Não seguiu a mesma sorte o povo africano, foi a exploração escravista no Novo Mundo. “A partir do tráfico de escravos/as e da escravidão nas Américas que raça começaria a ser associada indelevelmente a negro/a africano/a e a inferioridade da condição escrava, a ser construída como uma condição essencial dos/as negros/as”.

Nesse momento surgem várias teses, correntes ideológicas, afim de “justificar” a hierarquização, inferiorização do africano, desde ciência craniológica até o darwinismo social. Percebe existir retratos dos “Brasis preto e branco”, o racismo científico enraíza no seio da sociedade, criando um Brasil branco e um Brasil preto.

O Brasil do século XXI carrega todas as mazelas do racismo cientifico do século XIX, mesmo já sido comprovado cientificamente não haver distinção na espécie humana pela concentração de melanina, mesmo assim, essa doença social “racismo”, permanece sem cura!

Os retratos do século XXI, a mídia, corroboram para a perpetuação, reproduz o estereotipo da hierarquização da população negra, sempre com a imagem vinculada a inferiorização, subordinação, ao negativismo, sequelas estas herdadas do racismo cientifico.

O Brasil do hoje, a desigualdade social está intimamente ligada a racial, basta observar os espaços de poder, a ausência quase que na sua plenitude dessa população (negra) que ajudou a construir o país. Necessária à reflexão, analise, o porquê de não ter mobilidade social, permanecer sua grande maioria na base da pirâmide, até os tempos atuais.


O Racismo no Brasil é estrutural e institucionalizado, perpassa por todas as áreas. As constatações são claras, dessas sequelas, os negros no país são os mais assassinados, são os que têm menor escolaridade, menores salários, maior taxa de desemprego, menor acesso à saúde, os que morrem mais cedo, são os que lotam as prisões, menor participação no PIB, os que menos ocupam postos no governo. Destaque sendo maioria de 56% da população, isso é normal?!

Pasmem, isso naturalizou, concluindo quando será, que o negro deixará de ser cidadão de segunda classe, esse é a pergunta que não quer calar, quais as políticas públicas, para promoção da igualdade e da justiça social, para o Brasil de Todos?
“todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro” (FREYRE, 1933).

Referência Bibliográfica:
SCHWARCZ, Lilia M. Uma História de “Diferenças e Desigualdades”. As doutrinas raciais do século XIX. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças. Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil. 1870-1930. P. 43-66. São Paulo: Cia das Letras.

Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: módulo III/
Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andréia Barreto. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília

* Alessandra de Sousa Franco – advogada, especialista em direito e processo do trabalho, pedagoga, gestora pública, mestranda em políticas públicas na Universidade Federal do ABC

2 comentários em “Retratos dos “Brasis” preto e branco

  1. Tema epocal, complexo. Num recorte histórico, a historiografia está perfeita; numa visão que pretendesse ser filosófica (abrangendo o todo), exigiria vários volumes: a escravidão branca na Antiguidade clássica; o mercado de pretos por pretos na África, vendendo para europeus; a confluência da linha de classe com a linha de cor (Octávio Ianni); o imperialismo inglês…. A autora levantou um tema que daria várias teses de doutorado. Parabéns.

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