Wanda Camargo
Nesta semana nos chocamos todos com as notícias de que um homem agrediu a socos um professor de 53 anos dentro de um Centro Educacional na periferia de Brasília, fato registrado por câmeras de segurança da escola e presenciado por estudantes e outros professores.
O agressor declarou ter reagido em defesa de sua filha, que teria sido censurada pelo professor por usar celular dentro da sala de aula, o que aliás é proibido por lei atualmente.
Mas é bastante possível que o pai tenha adquirido o celular, talvez com dificuldade financeira, atendendo ao desejo de sua filha e para valorizá-la frente aos colegas, julgando absurdo que o professor cerceasse seu uso.
É também bastante provável que, em sua ótica, o aparelho devesse sim ser utilizado quando e como desejasse a adolescente, o que a colocaria e principalmente a ele próprio na condição de pessoa “diferenciada” não sujeita às leis comuns; consequência natural dos tristes e constantes exemplos que a imensa maioria de nossas chamadas autoridades nos lega.
Também pode-se aventar o desconhecimento do processo educativo, a necessidade de prestar atenção ao docente, a metodologia em uso e o respeito que deve existir em relação aos mestres para que a aprendizagem tenha sucesso.
A verdade é que a educação anda tão desvalorizada pela população, que qualquer pessoa – principalmente alguns influencers e políticos pouco dados aos estudos – considera que pode decidir sobre qualquer assunto no sistema educacional.

Como exemplo, apesar das ações de inconstitucionalidade contra o modelo de escolas cívico-militares que correm no Supremo Tribunal Federal (STF), em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a qual procura declarar a inconstitucionalidade das leis que criaram os programas nos estados, assim como da proibição de eleições para a direção nessas unidades, os governos de São Paulo e Paraná tem com frequência ignorado a cautela e procurado enviar à suas Assembleias projetos de lei para abertura de novas unidades de educação nesta modalidade, prevendo algumas em tempo integral e profissional, que tramitam em regime de urgência, impedindo discussões no Legislativo e garantindo a aprovação rápida para temas sensíveis.
Embora a Advocacia-Geral da União (AGU) já tenha se manifestado pela inconstitucionalidade dos programas, considerando que estados não podem criar um modelo educativo que não esteja previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e que ademais a Constituição Federal não preveja militares exercendo tais funções por falta de formação específica em suas carreiras, e, nos casos já em funcionamento, ganhando mais que professores e técnicos administrativos qualificados na área, essas unidades tem crescido no país.
Comissões de educação em casas legislativas em algumas partes do país parecem mais preocupadas em discutir assuntos como professores que tentam catequisar alunos, que falam sobre “ideologia de gênero”, assunto que aliás professore afirmam sequer existir, que criam cartilhas para ensinar a usar drogas e outras barbaridades, em lugar de discutir valorização da carreira, ausência de bibliotecas em muitas escolas, falta de laboratórios específicos para determinadas disciplinas, melhoria do atendimento aos alunos especiais e outros itens tão essenciais.
Por isso, infelizmente têm sido frequentes atualmente os episódios de violência nas escolas, e não apenas nas periféricas. Políticos discutindo temas absurdos certamente não auxiliam em nada a melhoria da educação pública, e a ausência de abordagem daquilo que poderia facilitar o interesse real pelo processo de ensino e aprendizagem, terminam por afastar cada vez mais as famílias das escolas, como se elas não fossem necessárias para o crescimento da economia, o acréscimo de cultura e o aumento da empregabilidade.
Respeitar um professor não tem sido frequente em nossas comunidades, ou ao menos estudantes não tem muitos exemplos disso, ao contrário, declarações públicas têm desacreditado docentes de todos os níveis de ensino, com acusações absurdas que levam os jovens e seus familiares a um clima de instabilidade, prejudicial à toda sociedade.
A procura pelo magistério, baixa em função da remuneração, torna-se pior pela violência a que estão expostos os professores.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
