VISITA À CASA DO SER

VISITA À CASA DO SER

Minha avó costumava dizer: a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Só muito depois, na maturidade, vim a entender melhor o sentido profundo dessa máxima. Isso aconteceu quando li os versos que Lao Tsé escreveu seis séculos antes de Cristo: “Falam-se palavras e se apalavram falas, mas é no silêncio que mora a linguagem”. A partir daí descobri a meditação de S. João da Cruz: o mergulho na noite escura, no silêncio da mente que se despe de seus pré-conceitos para acolher a iluminação.

Num momento de crise global, como o que estamos vivendo, quando tantos têm tanto a falar, ansiosamente, talvez seja importante ouvir um pouco mais. Não ouvir a ruidosa fala das redes sociais, mas a voz do vento (oh, Bob Dylan!), o vento que solfeja na clareira do silêncio, onde o ser se dá.

Creio ser oportuno, nesse momento, uma viagem a dois poemas de Jalal Rumi, poeta persa do século 13, através das paráfrases que fiz de seus textos.

RUMOS DE RUMI

1

Em algum ponto,

muito além da muralha das verdades,

para lá do tapume das mentiras,

existe um campo

– ali é que te encontro.

2

Deixa o silêncio falar.

Escuta.

Guarda tua boca

para provar a Doçura.

Afonso Guerra-Baião

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