A FOTOGRAFIA E A REPRESENTAÇÃO DO CORPO SOCIAL – II

Definimos então no último artigo (leia em: https://revistacontemporartes.net/category/narciso-e-o-espelho/) sujeito ou corpo social como a associação de pessoas vivendo em uma sociedade capitalista que pelo modo de “atuação” desta ideologia encontram-se divididas em classes, “que por questões objetivas, concretas, tem condições de vida, relações, sofre opressões ou se beneficiam das relações de opressão, comuns. Ou seja, um grupo de seres humanos que formam uma comunidade concreta, objetiva, por conta das relações materiais a que estão submetidos; (MARIBONDO, 2017) onde as diferentes funções são economicamente e por consequência, socialmente diferentes.

Uma das fotografias (imagem 1) mais icônicas do fotografo brasileiro Sebastião Salgado – imagem de 1986 na Serra Pelada, Pará, Brasil, permite-nos observar corpos humanos numa representação da relação do sujeito social com a precariedade do trabalho, a busca da riqueza, imposições sociais do capitalismo; esta fotografia foi eleita uma das 25 mais representativas da contemporaneidade pelo Jornal New York Times .

Imagem 1: Disponível em https://www.jornaldotocantins.com.br/mundo/sebasti-o-salgado-tera-mostra-postuma-em-xangai-apos-exposic-o-em-pequim-1.3269894. Acesso em jun 2025.

Na atualidade o sujeito social, nos processos de vivência em sociedade, estabelece relações de coexistência entre diversos e diferentes aspectos da vida social, que segundo Silva (2013) “a priori, fazem parte de uma construção social que lida com todas as formas de comportamento em sociedade: gestos, práticas culturais, estilos de vida, religiosidades, ética, ritos, crenças, valores morais e etc., além de discursos sobre sexualidade, educação, saúde – individual e coletiva –, gênero e cultura em geral.” Para a compreensão deste contexto, entendo necessário buscar uma definição de história social, que segundo Hobsbawn (2011, p 83/84) é um termo de significação complexo. Para este autor:

“Primeiro, referia-se à história das classes pobre ou inferiores, e mais especificamente à história de seus movimentos (“movimentos sociais”) […] Em segundo lugar o termo era empregado em referência a trabalhos sobre uma diversidade de atividades humanas de difícil classificação, exceto em termos como “usos, costumes, vida cotidiana. […] o terceiro significado do termo era certamente o mais comum e para o nosso objetivo […] o mais pertinente: “social” era empregado em combinação com a “história econômica.”

Imagem 2: Nesta Fotografia de Mario Tama/Getty Imagens via AFP, registro das manifestações em Los Angelis contra a atuação anti-imigrantes do governo Trump no início de junho/2025. Registros que demonstram a atuação dos sujeitos sociais em embates de poder, conflitos e revoluções sociais.

O que nos transporta a relação das dimensões social e econômica do sujeito social e, conforme afirma este autor (2011, p 85), “Max sabia que os modelos econômicos, para serem úteis à análise histórica, não podem ser separados das realidades sociais e institucionais que incluem certos tipos básicos de organização comunal ou familiar, para não falar das estruturas e premissas específicas a formações socieconomicas particulares enquanto culturas.” As representações imagéticas dos elementos que se identificam pertencentes aos sujeitos/grupos/classes sociais numa proposta de analise dos referenciais sociais e culturais destes, passa pela sociologia do corpo – o(s) corpo(s) como portador(es) de significados sociais. Breton (2006, introdução) confere a “compreensão da corporeidade humana como fenômeno social e cultural, motivo simbólico, objeto de representações e imaginários.” Um corpo que pode ser “lido” em imagens apanhadas em cenas públicas ou privadas. Desta forma, a imagem humana é corporal em suas aparências reveladas por expressões e em tempos históricos distintos, são demonstrações das revoluções sociais e culturais.

Imagem 3: Sebastião Salgado – Uma família saindo de uma mina de carvão. Dhanbad, Bihar, Índia; 1989. Disponível em https://www.elfikurten.com.br/2011/03/o-olhar-sensivel-de-sebastiao-salgado.html. Acesso em jun 2025.

“Não trabalho com a miséria, mas com as pessoas mais pobres. Elas são muito ricas em dignidade e buscam, de forma criativa, uma vida melhor. Quero com isso provocar um debate. A nossa sociedade é muito mentirosa. Ela prega como sendo única a verdade de um pequeno grupo que detém o poder.” Afirmou Sebastião Salgado. Para Perrot (2005, p 447), “o corpo está no centro de toda a relação de poder”; e desta forma, retomando Max, necessariamente, o corpo está na “luta de classes” demudando os fenômenos sociais.    

continua…

Referências:

DA SILVA, Ariana Kelly Leandra Silva. DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO SOCIAL. Disponível em https://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v5n1/a03.pdf. Acesso jun 2025.

HOBSBAWM, Eric. SOBRE HISTÓRIA. Editora Companhia das Letras, São Paulo/SP. 2ª Edição, 5ª reimpressão. 2011.

PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. EDUSC. São Paulo/SP. 2005.

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