Cassiana Patricia Morandi
Ana Paula de Oliveira Schmitz
Carina Merkle
Resumo: A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é uma instituição multicampi distribuída em 13 municípios do estado do Paraná. Neste contexto, cada campus recebe demandas e desafios particulares, porém atendendo à legislação e necessidades específicas de cada local. O objetivo deste trabalho é evidenciar os passos iniciais na cultura autista na UTFPR, através da experiência do campus Francisco Beltrão. Para tanto foi reunido material bibliográfico e documental, além da experiência cotidiana vivenciada na função de mãe, docente e especialista. Como resultados verificam-se movimentos lentos, mas organizados em relação à inclusão autista no espaço universitário federal da região de Francisco Beltrão, PR. Neste tecer entre experiência profissional e maternidade observa-se um avanço em acompanhar e dar condições de estudo e convivência para um público que precisa de apoio e conhecimento para desenvolver suas potencialidades e contribuir ativamente na sociedade.
Palavras-chave: UTFPR, inclusão, NUAPE, engenharia, legislação.
Abstract:The Federal Technological University of Paraná (UTFPR) is a multi-campus institution distributed across 13 cities in the state of Paraná. In this context, each campus faces specific demands and challenges, while meeting the specific legislation and needs of each location. The objective of this work is to highlight the initial steps in the autistic culture at UTFPR, through the experience of the Francisco Beltrão campus. For this purpose, bibliographic and documentary material was gathered, in addition to the daily experience lived in the role of mother, teacher and specialist. As a result, slow but organized movements in relation to the autistic inclusion in the federal university space of the Francisco Beltrão region, PR, can be seen. In this interweaving between professional experience and motherhood, progress can be observed in monitoring and providing conditions for study and coexistence for a public that needs support and knowledge to develop its potential and actively contribute to society.
Keywords: UTFPR, inclusion, NUAPE, engineering, legislation.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) nem sempre foi universidade, iniciou como uma Escola de Aprendizes Artífices, uma espécie de escola técnica para formar mão de obra economicamente desfavorecida, somente em 2005 a instituição passou a ser considerada uma universidade (Figura 1).
Figura 1: Capa do livro: UTFPR – uma história de 100 ano

Atualmente a UTFPR compartilha 13 campi, dentre eles o campus de Francisco Beltrão (UTFPR-FB), situado no sudoeste do Paraná e que oferece os cursos de Engenharia Ambiental & Sanitária, Engenharia de Alimentos, Engenharia Química (Figura 2), Agronomia e Sistemas de Informação. A partir desta demanda a universidade precisa receber discentes com várias especificidades.
Figura 2: Bloco R, UTFPR-FB
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é fundamental para garantir a inclusão e o direito à cidadania de estudantes com deficiências e necessidades especiais, incluindo aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na legislação brasileira, o atendimento a esses estudantes é amparado pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) e pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que asseguram o direito à educação em todos os níveis, incluindo o ensino superior.
Na UTFPR, o trabalho com estudantes autistas é focado na organização acadêmica, com atendimento especializado em horários e dias estipulados. Esse atendimento inclui a elaboração de um cronograma das atividades a serem desenvolvidas ao longo da semana, auxiliando na organização e adaptação ao ambiente universitário. Além disso, o atendimento abrange o auxílio em trabalhos acadêmicos, o apoio nos estudos para provas e o acompanhamento de atividades, garantindo que os estudantes tenham o suporte necessário para participar ativamente do processo de ensino-aprendizagem. Quando necessário, o atendimento se estende ao acompanhamento em sala de aula, assegurando uma inclusão plena e eficaz.
Em um município que é o primeiro do Brasil a implantar o Projeto de Intervenção Precoce para o Autismo (Figura 3) nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), é fundamental destacar a função da família no apoio ao estudante autista, porém nem sempre há o suporte familiar para realização das atividades por falta de entendimento do funcionamento do meio acadêmico. Na UTFPR-FB por exemplo, existem duas realidades no momento: uma estudante com apoio familiar de baixa renda e um estudante com mãe professora universitária e com conhecimento técnico. Neste contexto, ainda que disponibilizando atendimento especializado, terapias, medicação, divulgação sobre o TEA entre comunidade interna e externa ao ambiente universitário, os mesmos enfrentam dificuldades de autorregulação, momento que o estudante TEA precisa ter para organizar seu comportamento, emoção e cognição. Em relação ao suporte familiar no gerenciamento do tempo de estudo em cursos integrais, verifica-se que o período em que o acadêmico passa na Universidade é longo e ao chegar em casa, as atividades que precisam ser concluídas causam embates, muitas vezes até com irritabilidade e agressividade por não aceitarem, uma vez que já estão cansados.
Figura 3 – Projeto pioneiro sobre Intervenção Precoce para o Autismo

A supervisão e acompanhamento na execução de atividades, seja pela pedagoga ou familiar apresenta-se como essencial para êxito do desempenho acadêmico do autista, visto que na maioria dos casos os mesmos apresentam dificuldade de autonomia para desenvolver as atividades. Por outro lado, a estruturação do ambiente universitário também propicia alguns benefícios para o autista. No caso da UTFPR por exemplo, a ampla diversidade de atividades extraclasse nas mais diversas áreas pode atrair a atenção do autista para atividades que possibilitem socialização como aulas de línguas estrangeiras, musicalização, atléticas, entre outras, mas a depender da afinidade do indivíduo e da persistência na participação. Além disso, a escolha de um curso universitário em uma área de interesse também facilita o engajamento do autista na execução das atividades acadêmicas, visto que em geral há grande resistência no estudo de assuntos que não sejam de interesse, hiperfoco ou que os mesmos apresentem dificuldade. Nesse caso, tem-se um direcionamento da maioria das disciplinas com conteúdos relevantes, mas ressaltando a dificuldade de convencimento para estudos em determinados temas. Além disso, é necessário motivar o estudante a permanecer nas atividades, pois muitas vezes o interesse é interrompido com facilidade fazendo com que a atividade não seja continuada.
A UTFPR-FB, ainda que de modo incipiente, oferece apoio aos estudantes TEA e acompanhamento aos professores e servidores em geral.
Referências bibliográficas
BRASIL, Lei n. 13146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 01 ago. 2024.
Autores:

Cassiana Patricia Morandi
Graduada em História pela Universidade Paranaense – UNIPAR (2006). Segunda Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER (2019). Especialista em Ciências Sociais com Ênfase em História e Geografia, Educação Especial Inclusiva com Ênfase na Deficiência Intelectual, Transtorno do Espectro Autista (TEA) Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e, em Libras/ Língua Portuguesa Educação Bilíngue para Surdos, Educação Especial Área da Surdez. Mestre em Educação pelo Programa de Pós graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (2023). Atua como professora de Atendimento Educacional Especializado na – UTFPR, campus de Francisco Beltrão.
E-mail de contato: morandicassianap@gmail.com

Ana Paula de Oliveira Schmitz
Graduada (2009) e Mestre (2012) em Engenharia Química pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2011). Doutora em Engenharia Química (2016) pela Universidade Estadual de Maringá e atualmente atua como professora do Curso de Engenharia Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Tem experiência na área de monitoramento ambiental e tratamento de efluentes pelos métodos de adsorção, fitorremediação e fotocatálise.
E-mail de contato: anaoliveiraeq@gmail.com

Carina Merkle
Graduada em Licenciatura em Língua Portuguesa e Inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000), mestra em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2014) e doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (2017). Atualmente é professora na graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Francisco Beltrão e também é professora colaboradora no curso de pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Francisco Beltrão. Participa nos seguintes grupos de pesquisa: Grupo de Estudos Etno-Culturais (UNIOESTE); GIEF – Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM; Discursos sobre Trabalho, Tecnologia e Identidades (UTFPR).Tem como temas de interesse: história da educação, mulheres, desenvolvimento, sociedade e linguagem, línguas, etnias e língua portuguesa como ferramenta de internacionalização.
E-mail de contato: carinadebeltrao@gmail.com


Todo trabalho de inclusão social, especialmente o de inclusão de pessoas com necessidades especiais para o aprendizado, é fundamental. A propósito, como velho professor sempre considerei que a missão do educador é para com aqueles que têm dificuldade. Os discentes sem dificuldade necessitam apenas de orientação e acompanhamento. Parabéns!
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