Cultura surda na UTFPR-FB

André Luiz Godinho

Vanderleia Maria Castoldi Andrade

Renan Andrade

Izabel Cristina da Silva Godinho

Carina Merkle

Resumo: A cultura surda dentro da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Beltrão (UTFPR-FB) é uma iniciativa recente. Com um intérprete e uma docente, a equipe responsável pela introdução à cultura surda na UTFPR-FB elabora materiais didáticos, ministra cursos, palestras, aulas, interpreta a Língua Brasileira de Sinais (Libras)  em situações acadêmicas e sociais, além de oferecer suporte à comunidade surda interna e externa à UTFPR-FB. O objetivo deste texto é divulgar de modo geral o trabalho desenvolvido na instituição local. Para tanto, foram utilizados materiais bibliográficos, além da experiência cotidiana das atividades realizadas em torno da cultura surda. Como resultados é possível verificar que a UTFPR-FB está envolvida na formação de profissionais surdos, na interpretação da Libras e na divulgação e inserção da comunidade surda no meio acadêmico e comunidade externa. Neste sentido, verifica-se que a aproximação da universidade com a comunidade deve ser ampliada para que a comunidade surda possa ser atendida e respeitada em sua especificidade.

Palavras-chave: Universidade, inclusão, NUAPE, Licenciatura em Informática, legislação.

Abstract: Deaf culture at the Federal Technological University of Paraná, Beltrão campus (UTFPR-FB) is a recent initiative. With an interpreter and a professor, the team responsible for introducing deaf culture at UTFPR-FB prepares teaching materials, teaches courses, lectures, and classes, interprets Brazilian Sign Language (Libras) in academic and social situations, and offers support to the deaf community both inside and outside UTFPR-FB. The objective of this text is to generally publicize the work developed at the local institution. To this end, bibliographical materials were used, in addition to the daily experience of activities carried out around deaf culture. As a result, it is possible to verify that UTFPR-FB is involved in the training of deaf professionals, in the interpretation of Libras, and in the dissemination and inclusion of the deaf community in the academic environment and external community. In this sense, it is clear that the university’s relationship with the community must be expanded so that the deaf community can be served and respected in its specificity.

Keywords: University, inclusion, NUAPE, Degree in Computer Science, legislation.

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) campus Francisco Beltrão está inserida na região sudoeste do Paraná. Neste campus são ofertados os seguintes cursos de graduação: Licenciatura em Informática, Sistemas de Informação, Engenharia Ambiental & Sanitária, Engenharia de Alimentos, Engenharia Química e Agronomia.

Figura 1: UTFPR

Fonte: https://www.facebook.com/beltraosemfronteiras/

O campus oferece disciplinas de Libras 1 e Libras 2 como opções de introdução à cultura surda. Todos os cursos de graduação têm a oportunidade de receber Libras 1 e 2 como disciplinas optativas ou eletivas. Destes cursos apenas Licenciatura em Informática recebeu alunos surdos como graduandos, dos quais entre os quatro ingressos, dois estão formados enquanto os outros dois desistiram do curso. Embora este curso esteja atualmente descontinuado, auxiliou na formação destes alunos  que atualmente se encontram ativos no mercado de trabalho local, em colégio particular do município na função de suporte técnico e na função de ministrante de cursos e palestras sobre gamificação e adaptações  de aplicativos para a comunidade surda.

Figura 2: Formando

Fonte: arquivo pessoal

Mesmo vivendo em um ambiente onde se dissemina informações em sua grande maioria de maneira oral, os surdos também vivenciam e experienciam essas informações, mas de maneira visual, compartilhando com seus pares valores criados dentro de uma comunidade onde a troca de  regras, costumes, crenças acontecem de maneira visual. Mesmo estando inserido em um ambiente predominantemente oralista, a cultura surda se diferencia com a criação de seus próprios valores e significados. Mesmo tendo o entendimento de tais conceitos, a inserção da pessoa não ouvinte em ambiente acadêmico, muitas vezes é um entrave para o processo educacional, que por muitas vezes não está apto a receber este estudante. A presença de um profissional tradutor intérprete de libras qualificado é essencial nestes ambientes educacionais, pois são eles os que fazem a tradução do par linguístico Libras/Língua Portuguesa ser necessária, pois é este profissional o responsável em transpor barreiras linguísticas e culturais entre estes dois mundos.

Figura 3 – Tradução & Interpretação em Libras

Fonte: arquivo pessoal

Strobel (2016) retrata a construção deste estranhamento dos ouvintes sobre os surdos inserido em uma sociedade predominantemente oralizada. O fato de não se comunicar através da oralidade e não ser conivente com alguns padrões de comportamentos denotam ao surdo o rótulo de um ser diferente, o que por muitas vezes os atrapalham quando ingressam em um ambiente educacional como o ensino superior. Adaptar a linguagem acadêmica para uma língua totalmente visual por muitas vezes é um desafio para o TILS ( Tradutor intérprete da língua brasileira de sinais), e esse desafio só pode ser transposto em um momento onde o corpo docente, intérpretes e acadêmicos se juntam para alcançar o mesmo objetivo, a transposição desta barreira linguística.

No atual momento histórico ,somos agraciados com leis favoráveis a inserção dos surdos em ambientes em que por muito tempo não poderia estar presente, com o devido atendimento de qualidade.Um exemplo disto é  o Decreto 5626 de 22/12/2005 que traz a importância da inclusão do professor de Libras em seu quadro do magistério do ensino superior, divulgando desta maneira ainda mais os valores culturais desta classe muitas vezes excluída socialmente. Com a divulgação e adaptações pertinentes a todos os ambientes, os surdos estão cada vez mais alcançando patamares nunca antes sonhados, com educação de qualidade e direitos de ir e vir sendo respeitados em sua totalidade, podemos acreditar que nesses anos vindouros o céu é o limite para a comunidade surda, que hoje pode sonhar em ocupar lugares que antes eram proibidos devido a sua diferença linguística.

Referências bibliográficas

BRASIL, Lei. n. 10436. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências.  Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 09 ago. 2024.

BRASIL, Decreto n.5626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 09 ago. 2024.

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2016.

André Luiz Godinho

Possui graduação em Pedagogia pela UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná -2009),pós graduado em Educação Bilíngue : Língua Portuguesa/Libras pela FAMPER ( Faculdade de Ampére) e Certificado de TILS (Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais) PROLIBRAS (2010). Atualmente é Intérprete da Língua de Sinais na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e Professor da disciplina de Libras na UNIPAR (Universidade Paranaense).

Email para contato: godinho@utfpr.edu.br

Vanderleia Maria Castoldi Andrade

Possui graduação em Letras Libras Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2010) e graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá- UEM (2013) e Especialização em Educação Especial (2006). Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia – UFSC (2024).   Atualmente é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná campus Francisco Beltrão. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Brasileira de Sinais.

E-mail para contato:vcastoldi@utfpr.edu.br

Renan Andrade

Graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário de Maringá (2008)- Licenciatura e Bacharelado. Possui Certificação como Proficiente no Uso e Ensino da Libras expedido pelo MEC/UFSC(2008). Especialista em Educação Bilíngue para Surdos e Especialização em Arte e Educação Instituto Paranaense de Ensino, Instituto, Brasil, pelo Instituto Paranaense de Educação(2011). Desde 2010 como Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Apucarana. Além de ministrar aulas em cursos de Pós Graduação. Tem experiência no ensino da Língua Brasileira de Sinais para ouvintes. Atua desde 2013 como Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Dois Vizinhos.

E-mail para contato: randrade@utfpr.edu.br

Izabel Cristina da Silva Godinho

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) em 2011. Atualmente é professora de Educação Infantil pela Prefeitura Municipal de Marmeleiro – Paraná, e atua como Presidente do Sindicato dos Professores Públicos Municipais de Marmeleiro (SINPROMAR). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Infantil e Distúrbios de Aprendizagem.

E-mail para contato: izabel_godinho@hotmail.com

Carina Merkle

Graduada em Licenciatura em Língua Portuguesa e Inglesa pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000), mestra em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2014) e doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (2017). Atualmente é professora na graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Francisco Beltrão e também é professora colaboradora no curso de pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Francisco Beltrão. Participa nos seguintes grupos de pesquisa: Grupo de Estudos Etno-Culturais (UNIOESTE); GIEF – Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM; Discursos sobre Trabalho, Tecnologia e Identidades (UTFPR).Tem como temas de interesse: história da educação, mulheres, desenvolvimento, sociedade e linguagem, línguas, etnias e língua portuguesa como ferramenta de internacionalização.

E-mail para contato: carinadebeltrao@gmail.com

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