Muito além da Selfie: Uma pequena história do Autorretrato

“Um retrato! O que poderia ser mais simples e mais complexo, mais óbvio e mais profundo?” (Charles Baudelaire)

Na História da Arte, o Autorretrato é definido como uma imagem ou representação que o artista faz de si mesmo, independente do suporte escolhido. Esse tipo de auto-representação passou a ser cada vez mais frequente a partir da renascença italiana, e muitos artistas recorreram a essa forma de expressão, até mesmo chegando a uma espécie de obsessão como Rembrandt (1606-1669) que realizou quase uma centena de autorretratos, ou a pintora francesa Élisabeth Vigée Le Brun (1755-1842) também adepta dessa modalidade, ou ainda Frida Kahlo (1907-1954) autora de mais de cinquenta autorretratos, constituindo uma verdadeira autobiografia pictórica.

Rembrandt Van Rijn -Autorretrato como Apóstolo Paulo, 1661

“As duas Fridas”, de Frida Kahlo, 1939.

Autorretrato de Albrecht Dürer (1471-1528), aos 26 anos

Também na fotografia o self-portrait se desenvolveu desde os seus primórdios como um sistema de representação, fotógrafos de todas as tendências produziram fascinantes autorretratos cheios de significados. Consta que a primeira selfie da história foi registrada pelo químico amador e fotógrafo norte americano, Robert Cornelius, em 1839 com um daguerreótipo. Possivelmente ele preparou o equipamento na parte de trás da loja da sua família na Filadélfia, EUA, tendo removido a tampa da lente, em seguida correu e se sentou por cerca de 15 minutos antes de cobrir as lentes de sua câmera novamente.

Robert Cornelius (1809-1993), e a primeira “selfie” da história da fotografia.

Man Ray, nascido Emanuel Radnitzky (1890-1976) pintor, fotógrafo e cineasta norte-americano, uma importante figura do dadaísmo em Nova York, e depois do surrealismo em Paris, utilizou largamente o autorretrato como expressão, assim como Vivian Maier (1926-2009), que possivelmente tinha nesta prática uma forma de afirmar sua identidade, entre tantos outros. Cindy Sherman (1954-) fotógrafa norte-americana, é protagonista de todos os seus trabalhos em que discute os papéis impostos às mulheres pela sociedade, pela mídia, e pela arte, interpretando estereótipos femininos inspirados em filmes hollywoodianos, por exemplo.

Autorretrato do fotógrafo surrealista Man Ray

Vivian Maier, entre centenas de seus autorretratos

A fotógrafa e diretora de cinema norte-americana Cindy Sherman, em uma de suas performances fotográficas.

Cindy Sherman, mais conhecida por seus autorretratos conceituais, onde faz criticas aos estereótipos sociais impostos à mulher.

Segundo Saddi e Machado (2019) “ao longo dos séculos a produção de retratos e autorretratos pode ser encontrada em diferentes suportes, mas após o advento da imagem técnica ela se potencializa através da organização do espaço discursivo da fotografia nos museus, na vida privada e sobretudo na imprensa.

A recorrência da selfie fotográfica aparece como indicador de um corpo social que cada vez mais performa para as redes, ao ritualizar se apropriar, reinventar e jogar com as ferramentas de produção e circulação de imagens contemporâneas. O autorretrato nas redes sociais dialoga também com uma tendência que vem sendo observada junto com o próprio desenvolvimento da imagem técnica, e que diz respeito ao acesso e apropriação das ferramentas da produção de imagem e ao aumento da afirmação da figura do Eu.

Medeiros (2000) aponta a relação entre a cultura da celebridade e do carisma com a importância social e cultural adquirida pelo retrato fotográfico, bem como a dependência narcísica que se instala entre o gesto de fotografar a si mesmo em relação a um Outro, que a todo tempo nos observa”.

Referências:

O Autorretrato e o dispositivo fotográfico: uma análise das obras de Cindy Sherman. Disponível em: www.revistas.fibbauru.br/multidisciplidadefib – Revista Multiplicidade FIB, Bauru, 2019.

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