Wanda Camargo
Escolas brasileiras relatam, de forma geral, o menor número de matrículas em seus vários níveis, o que já vinha acontecendo antes da pandemia e tornou-se mais visível nos últimos tempos.
Causador de uma verdadeira batalha pela captação de alunos, com consequências saudáveis (criatividade em suas comunicações, aumento de recursos de infraestrutura e pessoal mais titulado), e também funestas (práticas predatórias, promessas irrealizáveis, valorização dos professores lenientes em detrimento dos mais exigentes), o fenômeno tem várias causas, e é preciso lembrar uma pesquisa realizada pelo jornal “Folha de São Paulo”, a qual, tendo valor de alerta, perguntou a jovens cursando ensino médio o fator a que eles atribuíam a perspectiva de um futuro profissional de sucesso, obtendo como resposta na grande maioria dos casos: “religião”. Depois disso vinham causas como indicações de amigos ou parentes, e finalmente o “estudo”.

Aparentemente está criada nos jovens a ilusão de confiar – de braços cruzados – numa solução miraculosa; ser saudavelmente religioso não implica em inatividade.
No entanto, outro fator que apresenta possibilidade de interferir, é do menor número de matrículas ser devido ao menor número de crianças em idade escolar, como consequência do decréscimo populacional nesta faixa etária.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra que em acordo com os dados coletados nos domicílios brasileiros, a população brasileira está mais velha e mais feminina, e que estamos em um processo de envelhecimento. O total de crianças com até 14 anos de idade no Brasil recuou em 12,6% entre 2010 e 2022, com Sul e Sudeste com população mais envelhecida em relação a Norte e Nordeste.
Embora tenhamos algum tempo atrás tido a notícia de seis bilhões de pessoas no mundo hoje, alguns prognósticos avaliam um decrescimento ao longo dos próximos anos, já que o declínio da fecundidade tem sido observado tanto nos países do Terceiro Mundo que adotaram políticas governamentais de redução da natalidade, quanto naqueles que não as formularam explicitamente, numa velocidade surpreendente, igualando as taxas de países mais desenvolvidos, os quais não apresentam patamares de reposição populacional, ou estão em decrescimento como a do Brasil.
Exceto naqueles países fortemente influenciados por governos autoritários e teocráticos, a expectativa é de que o declínio do crescimento vegetativo implicará na emergência do mesmo padrão demográfico e familiar observado pela mudança de uma situação agrário-tradicional para a urbano-industrial, prevalecendo as estruturas sociais destes tipos de sociedade: famílias nucleares, com poucos membros.

Do declínio da mortalidade, com a redução de mortes precoces pelas melhorias de alimentação, higiene e novas técnicas preventivas, saúde pública, políticas de saneamento e trabalho menos insalubre, aos maiores cuidados com os recém-nascidos, diminuindo as taxas de mortalidade, até o declínio da fecundidade, que se inicia depois do declínio da mortalidade, estamos evidentemente em um novo modelo de convivência, maior interesse por especialização e a saída das mulheres para o trabalho fora de casa; família extensa e proles numerosas são cada vez mais raras.
A disseminação e fácil acesso às informações do modo de vida das classes mais altas e escolarizadas, suas formas de organização interna e valorização dos complementos educacionais não formais – escolas de idiomas, treinamentos esportivos, cursos e viagens culturais -, e inclusive as práticas estéticas complementares, terminam por reduzir a procriação, mesmo nas camadas mais pauperizadas e menos escolarizadas, adaptando-as aos novos códigos de condutas e saberes.
Tais transformações sociais se mostram como irreversíveis, e parecem conduzir a um padrão familiar global único, com a possível exceção de alguns poucos países que, por motivos religiosos, desdenham os métodos contraceptivos e os benefícios do conforto doméstico.
E exatamente por este motivo, cresce a demanda por novo processo educativo mais completo, racional e de melhor efetividade: poucos filhos, no entanto educados com alta qualidade, exigem escolas melhores na infraestrutura, ótimos professores e funcionários administrativos, metodologias de ensino eficazes. Um desafio a ser enfrentado.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
