Gabriel Lopes Silva
Este texto, tem por finalidade, realizar uma breve e introdutória análise em relação ao aspecto de como a ditadura de 1964 é retratada nos dias atuais, bem como o uso de memórias do determinado regime são abordadas nos dias atuais. Neste ano de 2024, é completado 60 anos da ditadura civil-militar, considerada por diversos historiadores como um dos períodos mais trágicos da república brasileira em sua história. A pauta da memória sobre o regime autoritário ainda está em jogo no Brasil, desde a eleição de Jair Messias Bolsonaro, mais especificamente.
Durante a sua campanha, Bolsonaro fez diversas alusões ao regime ditatorial, homenageou retoricamente torturadores da ditadura, como Carlos Alberto Brilhante Ustra. Isso mostra uma tentativa através dos discursos de legitimar a ditadura. O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, comenta que “a história é frequentemente mobilizada nas disputas políticas, em grande medida por ser utilizada na formação de imaginários coletivos que instituem e dão legitimidade às comunidades políticas” (MOTTA, p. 02, 2022).
O historiador João Cezar de Castro Rocha (2021) interpreta a guerra cultural como um método para mobilizar as massas e destaca a importância de compreender sua lógica subjacente com urgência. Essa análise sugere que a maneira como a ditadura é retratada e as memórias desse período continuam a ser pontos de tensão e debate na sociedade brasileira contemporânea. O uso seletivo da memória desse período por parte de diferentes atores políticos demonstra como a narrativa histórica pode ser instrumentalizada para atender a interesses específicos, seja para justificar determinadas políticas ou para promover uma agenda ideológica.
Nesse contexto, a compreensão da guerra cultural e sua relação com a memória histórica torna-se crucial para desvendar as dinâmicas contemporâneas da política brasileira. Através dessa lente, é possível analisar não apenas os discursos políticos, mas também as estratégias de mobilização e legitimação adotadas por diferentes grupos sociais. Portanto, a urgência em compreender a lógica subjacente da guerra cultural vai além do âmbito acadêmico, sendo essencial para o exercício da cidadania e para a preservação da memória histórica como um instrumento de reflexão crítica e de construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Nesse sentido, a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de não querer promover e realizar quaisquer eventos, cerimônias, discursos ou produzir materiais em memória dos 60 anos do golpe civil-militar, é considerada de certa forma, equivocada. O presidente busca evitar o surgimento de conflitos com as Forças Armadas em um assunto que ainda é sensível para a instituição, porém é importante relembrar o período autoritário.
Podemos observar em diversas manifestações de grupos heterogêneos no Brasil um apelo por intervenção militar e a reinstituição do AI-5, uma medida que resultou no fechamento do Congresso Nacional e das assembleias legislativas dos estados, permitindo a cassação de mais de 170 mandatos legislativos, estabelecendo censura prévia na imprensa e em produções artísticas, além de conferir ao presidente o poder de intervir nos estados e municípios. É importante ressaltar que a maioria desses manifestantes que clamam por tais medidas não experimentou pessoalmente os horrores desse período e desconhece as consequências reais desses atos.
Portanto, é essencial que reflitamos sobre o passado, evidenciando para a população o significado de viver sob uma ditadura e esclarecendo o que caracteriza um regime autoritário. Essa ausência de enfrentamento direto do debate ideológico pelo governo Lula pode contribuir para a perpetuação de visões distorcidas e romantizadas do período ditatorial, bem como para a minimização dos seus impactos nefastos na sociedade brasileira. Ao negligenciar a importância de educar a população sobre os perigos e as violações aos direitos humanos que ocorreram durante esse período sombrio, corre-se o risco de abrir espaço para discursos autoritários e antidemocráticos.
Destarte, salienta-se aqui, a importância da conscientização da sociedade sobre os perigos do autoritarismo, contribuindo assim para o fortalecimento da democracia e o respeito aos direitos humanos no Brasil, que tem o autoritarismo como uma característica fundamental da ditadura civil-militar, marcada pela repressão política, centralização do poder, restrição dos direitos civis e militarização da sociedade. Essa era uma época em que as liberdades individuais eram frequentemente desrespeitadas em nome da suposta estabilidade e segurança nacional, deixando um legado de violações dos direitos humanos e traumas na sociedade brasileira.
Referências bibliográficas
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A guerra cultural bolsonarista e as disputas pela história recente. Contenciosa, 2022, núm. 12, Janeiro-Novembro, ISSN: 2347-0011
ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. 1ª Edição. Goiânia: Editora e Livraria Caminhos, 2021.

Gabriel Lopes Silva é graduando em História pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), atuou como bolsista no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes) entre os anos de 2022/23. Atuou como bolsista do Programa de Iniciação Científica Voluntária (ICV) no projeto intitulado ‘Exames da associação do discurso político e do religioso na elaboração de políticas sociais em cenário nacional”, entre os anos de 2022/23, atualmente é bolsista de Iniciação Científica do Programa Institucional de Iniciação Científica nas Ações Afirmativas – PIBIC – Af do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no projeto: Ações histórico-culturais em esportes equestres adaptados e paralímpicos no Brasil: tecnologia assistiva e inclusão. Tem interesse na área de História, com ênfase em História do Brasil República e História Contemporânea. É membro ativo do Grupo de Pesquisa e Estudos do Pensamento Autoritário da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), vinculado ao CNPq e também do Grupo de Estudos em História do Esporte e da Educação Física (GEHEF), certificado pelo CNPq. Contato: gabriellopessilvamg@gmail.com

