Wanda Camargo
Dois componentes são igualmente importantes e complementares no processo educativo: a construção do conhecimento, por meio da pesquisa, dos conteúdos pedagógicos, e a valorização e desenvolvimento do ser humano em suas particularidades pessoais e emocionais.
O bom professor, ao lado de um adequado conhecimento técnico, tem também interesse pelas pessoas que são seus alunos, a simples atitude de disponibilidade a eles e suas demandas, o que leva à consciência de que são importantes, são vistos, existem. E por vezes é toda a diferença necessária; ninguém ensina sem dedicação ao outro, aprendizagem necessita atenção e cuidados.
A autoconfiança, fundamental para aquele que se submete ao processo educativo, é decorrência de muitos fatores vindos desde a primeira infância, se a criança foi amada e ouvida por pais, professores e colegas; educação das emoções tem imensa importância no processo de formação, e professores sabem que muitos dos problemas geralmente denominados educacionais, quando envolvem atitudes agressivas e crueldades, na verdade podem ser explicados por desamor, principalmente no início da vida. Desconfiança, hipocrisia, violências, são todos desagregadores da personalidade, e impedem um processo de desenvolvimento pessoal de boa qualidade.

Feridas e cicatrizes levadas pela vida afora atrapalham todas as formas de ensino-aprendizagem, mesmo quando o foco é a perspectiva cognitiva, e quando se trata de ensinar atitudes, sem sintonizar o universo afetivo do aluno será simplesmente impossível.
É possível incorporar um pouco de conhecimento técnico sem refletir sobre ele, mas somos incapazes de adquirir valores, ter bons comportamentos e adquirir habilidades sem reflexão, sem momentos de alegria e apreciação de virtudes.
Acontece com alguma frequência que estudantes ou prestadores de concursos públicos ao realizarem provas não obtenham o resultado esperado, em muitos casos haviam se preparado bem, estudado com afinco e tinham o conhecimento necessário para um bom desempenho. No entanto “deu branco”, as informações ou práticas foram esquecidas momentaneamente, e no pior momento. Isso é tão mais comum quanto mais importante para a pessoa for o evento.
Uma explicação para esses fatos é a condição emocional dos “amnésicos” temporários. A expectativa pelo sucesso, que significaria aprovação em testes acadêmicos ou acesso a empregos desejados, é tão grande que oblitera a capacidade de realização.
Os amigos, familiares e professores sempre recomendam tranquilidade aos prestadores desses exames, o que é um bom conselho, entretanto nem sempre exequível, o estresse parece se sobrepor à vontade. No mundo corporativo fala-se em “inteligência emocional”, algo que seria mais importante do que o próprio conhecimento sobre as atividades dos negócios e do que a inteligência racional, na verdade aquela forma de inteligência é complementar a esta e não dispensa de forma alguma o conhecimento, que necessita calma, lucidez e criatividade, não importando o nível de exigência de cada situação.
Preparar-se para o mundo do trabalho essencialmente demanda capacidade de relacionar-se, de desenvolver habilidades de convivência, solidariedade e empatia, o que só é possível em ambientes calmos, porém alegres; que estimulem a colaboração e não a competição desenfreada.
As formas com que professor e aluno se relacionam envolvem expressões de afetividade inerentes às relações sociais, e interferem na dinâmica do entendimento mútuo. Em função disso, a fala, a escuta e o afeto que ocorrem entre ambos extrapola a mera transmissão de conteúdos; afetividade é fator constitutivo da aprendizagem, pois com parceria e amizade o discurso do professor tem chance de ser aproveitado plenamente, ganhando maior credibilidade.
A boa escola é aquela que tem bons professores.
