Wanda Camargo
Somos uma espécie gregária, por sobrevivência na antiguidade e por motivos diversos atualmente.
Gostamos e necessitamos do contato social, do grupo, dos familiares, e isso é fator importante no equilíbrio emocional além de condição de vida.
À parte os muitos aspectos positivos da socialização existem o que poderíamos chamar “doenças sociais”. Uma delas é a “ostentação”, nada nova mas em autêntico paroxismo nos nossos tempos em que privacidade parece ter se tornado um palavrão; vida privada passou a ser proibitiva, sintoma de fracasso social quando as menores ações pessoais devem ser registradas, compartilhadas e “curtidas”.
É natural ter orgulho de realizações e conquistas concretas, que melhorem a vida de quem as obtém, mas há uma transferência preocupante do que seriam realizações para o que tenha custado caro e/ou seja de difícil aquisição não esteja ao alcance dos não “diferenciados”.
A mera exibição de objetos, veículos, joias, roupas, acessórios, com características suntuárias e diversas das que seriam sua finalidade, em muitos casos é um pedido desesperado de ingresso em grupos sociais onde se supõe que essas coisas sejam valorizadas. Isso também demonstra quanto “fazer parte” é importante, em todos os segmentos da sociedade.
Instituições escolares, além de ministrar conteúdos específicos indispensáveis a uma futura vida profissional – geografia, história, matemática, língua materna e estrangeira e muitas outras, tem como ponto forte propiciar a convivência em grupo, fazendo com que aprendamos desde a mais tenra idade, as regras sociais de convivência, a gentileza, a solidariedade e empatia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”, e assim o foco exclusivo na doença vem sendo substituído pelo estudo das influências exercidas em nossas vidas pela religiosidade, esperança, sabedoria, criatividade, generosidade, que constituem dimensões do bem-estar e qualidade de vida.
Como exemplo pode-se citar o Butão, pequeno país asiático com população inferior a um milhão de pessoas e um dos mais pobres do continente, também considerado o mais feliz e com o ar mais puro do mundo.
Tem ficado cada vez mais claro que um imenso problema de saúde pública é o que denominamos isolamento social, estado no qual indivíduos tem cada vez menos envolvimento com suas comunidades, familiares ou não. A ausência, ou poucas interações sociais cotidianas parecem provocar o aumento da mortalidade por múltiplas causas.
Principalmente os idosos, nas suas diferentes características sociais, culturais, econômicas e ambientais, demandam políticas que busquem espaços de sociabilidade e de interação entre eles, famílias e cuidadores, pois isso tem se mostrado como um marcador para a qualidade de vida.
A religião tem sido mais estudada pela ciência, hoje existe abundância de dados sobre o impacto da espiritualidade na vida de todos, a dimensão religiosa/espiritual mostra-se muito ligada ao binômio saúde-doença, e atualmente este fator antes desprezado na saúde física e mental e que no entanto envolve conceitos fundamentais como significado da vida e razão de viver, não se limitando a crenças ou práticas.
O conceito de qualidade de vida ampliou-se por estudos de base epidemiológica sobre felicidade e bem-estar e pelo movimento de humanização da medicina.
Acima de tudo, precisamos uns dos outros, gostamos de muitos “outros” e devemos valorizar essa realidade.
O muito conhecido verso do filósofo John Donne ilustra esse fato: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída…”, a humanidade fica diminuída a cada perda que sofre, nas guerras, nas fomes, nos genocídios, ficamos todos mais pobres quando perdemos irmãos que nunca vimos.
A poesia romântica dos anos 1970, vale para todos: “Sou tranquila em mim, feliz em ti, mas só completa em nós”.
