AMOR EM TEMPO DE CÓLERAS

O oposto da utopia é a distopia. Utopia é o sonho, distopia é o pesadelo. Quando alguém ou um grupo de pessoas procura impor suas opiniões e estigmatizar os outros que pensam ou agem de maneira diferente, aí é que se abrem as portas da distopia, do pesadelo. O texto que escrevo abaixo aborda uma distopia legal, uma lei que não está escrita, mas que se inscreve em nossas práticas individuais, em nossas relações sociais e institucionais, quando distorcidas pela intolerância e pelo fanatismo. O tema desse texto poderia ser o motivo de uma narrativa kafkiana, mas sem perder a dureza da narrativa distópica, ele acabou encontrando a utópica harmonia que se cristaliza na forma de um poema.

Ilustação de Mark Kostabi

AMOR EM TEMPO DE CÓLERAS

“…the laws that lay down who should be loved, and how. And how much.” (Arundhati Roy)
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Quem pode amar, quem deve ser amado

a lei do amor separa o preto e o branco,
o corpo de delito e o corpo santo,
a mente e o coração, o forte e o fraco.

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Quem pode amar e de que modo e quanto

a lei do amor distingue com cuidado
o que virtude é, o que é pecado,
quem deve ser amado, onde e quando.

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A lei que mede o desmedido amor,
o mandamento que veste a camisa
de força no desnudo e livre amor,

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é o decreto que regula a vida
e diz quem pode amar e como e quanto,
quem deve ser amado e onde e quando.

Por Afonso Guerra-Baião

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