
A noite vibrava no calor típico de fevereiro, e o trio do Serenata & Cia seguia rumo ao seu próximo destino. Violão a tiracolo, vozes harmonizando no compasso do coração e a flauta transversal cortando o ar como um raio musical. A missão? Uma serenata surpresa para o aniversario da presidente de uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo Uma vencedora contumaz da avenida, rainha do Carnaval, senhora absoluta do compasso e do enredo.
Ao chegarem, encontraram a festa já pulsando em ritmo de celebração. Mas nada prepararia a anfitriã para o que estava por vir. No meio do salão, o violão dedilhou os primeiros acordes, e as vozes se entrelaçaram suavemente com a melodia:
“Vem que a vida é fantasia, entre plumas e emoção
Mas só brilha de verdade quem escuta o coração…”
E então, a flauta soprou como se contasse segredos ao vento. O samba, que tantas vezes fora seu instrumento de comando e vitória, agora lhe chegava como um presente, despido de disputa, livre como a essência da festa.
Ela sorriu. E chorou.

O Carnaval sempre foi o reino das máscaras. No jogo da vida, todos usam uma: a do líder incansável, a do destemido que nunca desaba, a do vencedor que não pode errar. Mas, naquele instante, não havia necessidade de nenhuma delas. Havia apenas música. Havia verdade.
Com os olhos ainda marejados, ela se levantou e fez o inesperado:
— Isso aqui é magia! Quero vocês na avenida comigo! No nosso carro multicultural! Vocês não perceberam? As cores das roupas de vocês são as mesmas do carro! Isso já estava escrito!
O trio se entreolhou, surpreso e emocionado. O grupo todo de serenata desfilando num carro alegórico? A vida tem suas surpresas, e o Carnaval sabe bem como guiar seus escolhidos.


E assim aceitaram o convite. No sambódromo iluminado, entre confetes e aplausos, cantaram não apenas com as vozes, mas com a alma. E quando os jurados anunciaram o resultado, sentiram na pele o que já haviam aprendido naquela noite mágica: a vitória do samba não está só no troféu, mas na capacidade de compartilhar alegria.
Porque no Carnaval, e na vida, o que realmente importa não são as máscaras que usamos, mas os momentos em que podemos nos libertar delas e, juntos, celebrar a verdade do que somos.
Texto – Fredi Jon. Outras histórias você encontra no MINUTO Serenata disponível no site: serenataecia.com.br e no YouTube
Pausa para um Quadrinho


