
Hoje vamos contar a história de Felipe, o homenageado que estava com câncer em fase avançada, e que toda a família e amigos se mobilizaram para fazer de seu aniversário um evento inesquecível. A filha Cláudia nos contatou para uma serenata, dizendo que esta poderia ser a última homenagem a seu pai por conta do estado de saúde. Saímos de São Paulo em trio, atravessamos a cidade para chegar a Caucaia do Alto, onde ficava a sua residência. Era um dia de verão, com muito sol, mas antes havia caído muita água do céu, então todo o solo estava muito encharcado. O ano era 2004. Tínhamos apenas o guia 4 Rodas para nos orientar, portanto não sabíamos nada sobre o trânsito, acidentes, etc. Enfrentamos não só as estradas lamacentas e escorregadias, mas também a incerteza do endereço. Enfim, chegamos ao local.

Avisamos Cláudia e nos preparamos para entrar em cena. Nossos pés se encheram de barro logo no primeiro passo, e os carregamos até o ponto de concentração da festa. Era um terreno grande, com o homenageado perto da churrasqueira, meio cabisbaixo e quase sem sorriso. Tocamos a primeira música e todos já fizeram a grande roda, trazendo seu Felipe para o centro dela, onde ficou até o fim da serenata. Todos cantaram conosco todas as músicas e, a cada uma delas, nosso homenageado reagia de forma diferente. Ele via a cena sem acreditar no que estava acontecendo. Depois de muitas lágrimas e muito canto, agora era a vez de seu Felipe deixar seu registro. Eis que ele surpreende a todos com seu discurso. Agradeceu a presença de todos e disse que, mesmo lutando com todas as suas forças, a vida parecia escapar por entre seus dedos

. Mas tudo isso não seria mais forte do que a vontade de lutar por ela e perceber que toda aquela demonstração de amor o havia tocado profundamente. Ele afirmou que, se partisse naquele momento, morreria com uma das poucas certezas que teve durante sua experiência terrena: a de que, quando tudo parece sem sentido, um ato como aquele transmuta e potencializa a força máxima do amor dentro de si, percebendo então seu real significado, e que só por isso já valeu a sua existência.
Texto – Fredi Jon
Acompanhe o Minuto Serenata no YouTube no canal SERENATA & CIA com mais este tema, narração Valdecir Almeida
Pausa para um Quadrinho

