Afonso Guerra Baião
NARCISSUS
Narciso se desfaz: que se esvai
a forma do amor, náufrago ego
no espelho d´água dos olhos
em ponto cego.
Narciso se refaz: transfeito em flor,
amor se mira no árdego alterego
que paralisa o girassol
em ponto cego.
(Depois de reler Rilke, lido por Philippe Jaccottet)
NARCISO E ECO
Narciso não se vê. No espelho d´água
Naufraga o amor, preso nas linhas
Dos círculos concêntricos das ondas
E atado ao lastro do ego:
Nas margens quebra seu canto de cisne,
Que Narciso desfeito se faz
Eco.

