Eduarda Jardim Monteiro 1
Conhecida como Guerra Fria, o período simbolizou uma tensão geopolítica muito grande entre os blocos Ocidental e Oriental, marcados, respectivamente, pelos países Estados Unidos e União Soviética. Ressalta-se que os dois países saíram vitoriosos da Guerra: a URSS sendo reconhecida como uma grande nação que lutou contra o Fascismo, afinal de contas os russos foram o povo que mais perdeu soldados no campo de batalha. A respeito dos estadunidenses, apesar de compartilhar da mesma vitória, foi muito reconhecido por esbanjar ser uma grande potência. Logo, essa popularidade dos soviéticos passou a preocupar o mundo capitalista, pois esses temiam que essa certa influência pudesse fortalecer movimentos e partidos de esquerda europeus. Assim, quando Harry Truman assume a presidência em 1945, após a morte do presidente Roosevelt, uma política externa mais agressiva é adotada, o que resulta em um estreitamento de relações entre os dois países.
O início do conflito recebeu muitas interpretações históricas diferentes. Uma delas é denominada perspectiva ortodoxa estadunidense, na qual é enfatizada uma responsabilidade de eclosão do conflito pela URSS e a utilização do discurso de que o expansionismo dos soviéticos eram um avanço militar perigoso que ameaçava os países do Ocidente. Ainda de acordo com essa linha de pensamento norte-americana, a União Soviética também teria desrespeitado acordos feitos durante a Segunda Guerra, visando principalmente aproveitar-se de seu posicionamento estratégico nas regiões da Europa “para impor regimes tirânicos por ela tutelados àquela região do planeta” (SCHLESINGER, 1992). Entretanto, é fundamental salientar que, durante o fim da década de 1940 e no decorrer de toda a década seguinte, os EUA se apropriou de uma versão oficial da História da Guerra Fria, elaborada a partir de um viés que heroificava sua nação e tornava a imagem dos soviéticos cada vez mais deteriorada. A outra linha de pensamento, que contesta a visão estadunidense, é a perspectiva ortodoxa soviética, a qual foi elaborada pela ótica do Kremlin, um complexo fortificado que fica localizado na capital russa. De acordo com essa vertente, a Guerra Fria havia sido um resultado direto das expansões imperialistas estadunidenses, de forma que, as ações do país tinham como objetivo subverter regiões de influência soviética, para assim fazer com que essas populações agissem contra este governo russo. Contudo, o Revisionismo dessas duas formas de interpretar o momento histórico foi importante para que historiadores pudessem estudar com clareza o conflito. Segundo o livro “Guerra fria: história e historiografia”:
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“Essa corrente minimiza as questões ideológicas, associa o posicionamento
dos EUA às suas políticas domésticas e enfatiza as ações soviéticas no campo
da construção da sua esfera de poder; por fim, responsabiliza os EUA pelo
início da Guerra Fria, pois entende que a União Soviética, naquele contexto
histórico, buscava a cooperação internacional e não representava ameaça à
Europa ou ao mundo capitalista. Em adição, defensores desse ponto de vista
exploram o fato de a URSS estar completamente devastada pela guerra e
afirmam que, em consequência, o país não poderia suportar um novo conflito
global prolongado” (MUNHOZ, 2020, s/p).
Diante de um cenário internacional no qual os conflitos diretos entre as nações não aconteciam, os embates indiretos eram frequentes. Esses, por sua vez, aconteciam de diversas maneiras, como por exemplo, em termos culturais, políticos e, principalmente ideológicos. De uma forma geral, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética tinham objetivos parecidos: explorar em seu oponente todo tipo de fraqueza que fosse questionável e, a através disso, produzir um discurso no qual seu próprio projeto econômico-político fosse beneficiado de alguma forma. Os capitalistas americanos, produtores dos bens de consumo e do liberalismo, construíram uma narrativa para o seu inimigo socialista, na qual os russos viviam em um sistema antidemocrático com base no comunismo. Assim, para a implantação desse ideal, foram usadas ferramentas de coerção populacional através das massivas propagandas disseminadas pelos meios de comunicação e os discursos hegemônicos estadunidenses.
Os discursos consistiam em uma narrativa hegemônica conceituada na base teórica do filósofo italiano Antonio Gramsci, com às definições de difusão das estruturas ideológicas e dos aparelhos hegemônicos do discurso e a consolidação do bloco histórico a partir de uma aliança de partidos em prol de seus interesses políticos.
Esse projeto de difusão ideológica não se atentou somente a população dos EUA. Ao longo do século XX, a postura imperialista dos estadunidenses se mostrou forte em construir alianças com diversos países capitalistas, aumentando assim sua esfera de influência e a difusão de seu discurso hegemônico-ideológico. É fundamental ressaltar que a Doutrina Truman e o Plano Marshall foram essenciais nesse processo, principalmente por terem contribuído para a amplitude econômica da região. Contudo, outros movimentos políticos estavam acontecendo paralelamente ao crescimento dos Estados Unidos, a radicalização da Revolução Cubana, por exemplo, foi um deles. É importante lembrar que os anos que vão de 1960 a 1962, marcaram uma sucessão de conflitos entre as duas nações. No ano de 1960 os estadunidenses passaram a restringir a venda do petróleo ao território, o que fez com que o governo cubano recorresse a venda do mercado soviético. A este ponto, a perseguição norte-americana contra países aliados a União Soviética já era evidente, e em Cuba a situação não foi diferente. Meses depois, os EUA reduzem “a cota de importação de açúcar cubano em 95%” (AYERBE, 2004), fazendo com que o Estado de Cuba, como uma contrarresposta, nacionalizasse as empresas estrangeiras e as propriedades rurais. Já no ano de 1961, as ações de ambos promovem a continuidade as tensões: em janeiro os norte-americanos rompem relações diplomáticas com Cuba; no mesmo mês os cubanos
assinam acordos com a URSS.
“No dia 15 de abril de 1961, aviões dos Estados Unidos bombardeiam
quartéis e aeroportos com a finalidade de destruir aviões cubanos. No dia 16
de abril, em concentração popular para velar as vítimas do bombardeio, Fidel
Castro proclama, pela primeira vez, publicamente o caráter socialista da
Revolução Cubana. No dia 17 de abril, produz-se a invasão da Baía dos
Porcos. Em janeiro de 1962, Cuba é expulsa da OEA. Em fevereiro, os
Estados Unidos decretam o bloqueio econômico do país. Em outubro,
Kennedy impõe o bloqueio naval, em virtude da instalação de mísseis
soviéticos no território do país. (AYERBE, 2004, pág. 63).
Como é possível perceber na citação acima, retirada do livro “A Revolução Cubana”, escrito por Luis Fernando Ayerbe, este corte temporal analisado foi especialmente um momento explosivo entre os dois Estados. Desse modo, é plausível afirmar que a junção dessa continuidade de ações conflituantes ocasionaram em uma das situações mais hostis da Guerra Fria: a Crise dos Mísseis. Esse acontecimento histórico durou por 13 dias e envolveu os soviéticos, os estadunidenses e as tensões relacionadas a implantação de misseis em Cuba que pertenciam a URSS, diretamente apontados para os Estados Unidos.
Esses conflitos registrados em Cuba demonstram com clareza o poder que a Guerra Fria exercia sob a política internacional e, principalmente, o quanto essa guerra político-ideológica afetou outros países do mundo fora do eixo bipolar. Eles também determinam o quão longe os Estados Unidos estavam dispostos a ir para propagar suas ideias neoliberalistas, inviabilizando o acontecimento de reformas pacíficas e, em muitos casos, a consolidação de um Estado Nacional não repressivo e benéfico para seus cidadãos. Além disso, essa tipologia política evidência que qualquer caminho alternativo a esfera da ordem dominante era inaceitável e, por isso, deveria ser exterminado com o uso da força caso fosse preciso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AYERBE, Luis Fernando. “A Revolução Cubana”. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
GRAMISCI, Antonio. “Hegemonia e Cultura”. Editora UFPR, 2007.
MUNHOZ, S. “Guerra Fria. História e Historiografia”. MUNHOZ, S. Cap. I – Diferentes Perspectivas
sobre a Guerra Fria.
SCHLESINGER JR, Arthur. “Os ciclos da história Americana”. Rio de Janeiro: Civilização brasileira,
1992.

1 – Eduarda Monteiro é uma acadêmica de Licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Campus de Campos dos Goytacazes – Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional (ESR). Ingressou no ano de 2020 através do Sisu (1o edição) e cursa o 7o período acadêmico. O principal interesse de pesquisa da graduanda é voltado enfaticamente para História dos Estados Unidos, História das Relações Internacionais, História Econômica e História Política Contemporânea. Possui qualificação para realizar leituras e transcrições paleográficas de manuscritos brasileiros e participa do projeto de extensão “As escrituras da Cabeça Política do Estado do Brasil: construção de um banco de dados dos Livros de Notas de Salvador da Bahia (1664- 1807)”, coordenado pelo Prof. Dr. João Luis Ribeiro Fragoso (UFRJ). Atua como bolsista no Programa Institucional de Residência Pedagógica (PIRP) na área de Educação, sob orientação do Prof. Dr. Christiano Britto Monteiro dos Santos. Opera como monitora voluntária na disciplina História do Brasil República (PUCG/UFF). Desempenha a função de pesquisadora voluntária no de pesquisa, vinculado a Universidade Federal Fluminense (UFF), “Estados Unidos da América (EUA), Grande Caribe e Golfo do México em perspectiva sistêmica global: a reconstrução da hegemonia em tempos de crise (1967-2017)”, coordenado pelo Prof. Dr. Roberto Moll Neto. Faz parte do corpo editorial da Revista Convergência Crítica sob a coordenação do editor-chefe Leonardo Soares dos Santos (COC/ESR/PUCG/UFF). Atualmente integra o Laboratório de Estudos das Direitas e do Autoritarismo (LEDA) e participa do Grupo de Estudos em Teoria Social (GETS). Durante o ano de 2022 fez parte do Laboratório de pesquisas sobre cotidiano e tecnologia (no.ar – CNPq), sob a supervisão do Prof. Dr. Paulo Rodrigues Gajanigo e do projeto de pesquisa “A história dos trabalhadores rurais de Campos dos Goytacazes (1902-1978)”, coordenado pelo Prof. Dr. Leonardo Soares dos Santos.
